vendredi 26 décembre 2014

Primeiro Natal no Congo

Já estou morando no Congo há mais de 5 meses, e aos pouquinhos estou conhecendo a cultura desse país. Muita gente tem a imagem da África de miséria, de fome, e eu não vou negar que isso é verdade. Eu não conheço muita coisa por aqui ainda, conheço Ponta Negra que é a cidade onde eu moro. Tem aproximadamente 700 mil habitantes e tem muitas pessoas paupérrimas. Pessoas que moram em casas de pau, no meio da floresta, que tem acesso a água limitado e comida é mandioca e folha de mandioca. Eles tem acesso a hospitais, mais eles não são de boa qualidade. Tem acesso também a educação, na verdade escola é o que não falta por aqui. O estado das ruas nem se fala, é impossível andar a pé, devido a falta de calçadas. E os motoristas são uns mais loucos que os outros. Claro, que os responsáveis maiores de tudo isso são os políticos, um milhão de vezes mais corruptos aqui que no Brasil. Mas não é sobre miséria que eu quero falar. A imagem da miséria temos bem na nossa cabeça. Miséria também existe no Brasil e todas as partes do mundo. Eu gosto de falar sobre comportamentos que muito mostram sobre a personalidade das pessoas. Eu quero falar sobre as pessoas com as quais eu tenho contato por aqui.

As pessoas que eu tenho contato por aqui são geralmente expatriados, gente que está por aqui trabalhando, ou acompanhando o cônjuge (o meu caso), conhecendo culturas, mas também se submetendo a uma cidade de infraestrutura precária, tomando atenção quintuplicada com a higiene, com acesso limitado a produtos (porque quase tudo é importado e custa uma fortuna), morando longe da família etc. Tudo isso, porque trabalho está difícil em várias partes do mundo, e quando a gente tem um, a gente luta para conservá-lo, e também para guardar um dinheirinho para em alguns anos conseguir comprar a casa própria, ou para ter dinheiro para cuidar dos filhos, enfim, viver uma vida confortável. Cada um de nós expatriados somos muito empáticos uns com os outros, sabemos que, em relação o quadro de vida de 90% da população aqui, estamos muito bem e temos uma vida bem confortável. Mas NÃO somos milionários, nem mesmo ricos, nem mesmo classe média alta, como eles pensam aqui.

A outra parte das pessoas que eu tenho contato, são as pessoas que trabalham no condomínio, como domésticas, jardineiros, lavadores de carro, eletricistas, auxiliar de limpeza etc. São pessoas que tem uma vida melhor que a maioria da população, pois tem um emprego, e nesse emprego ganham em média 30% a 80% a mais que os outros trabalhadores que trabalham para a população local. Tem também a população rica local, são congoleses, árabes, chineses, indianos, marroquinos etc. Eles são MUITO ricos, os políticos principalmente. Eles andam de Jaguar, Ferrari, Range Rover, enquanto a gente gasta 50 reais num barzinho, eles gastam mil. E tem a particularidade de tratarem e pagarem mal seus empregados e todas as pessoas mais pobres com as quais tem contato, como, por exemplo, um garçom num restaurante.

Dado a composição da população local. Seleciono os trabalhadores locais do condomínio, e do meu apartamento mesmo, para estudarmos o comportamento humano. Por aqui o que reina é a OSTENTAÇÃO.  A pessoa pode morar debaixo da lona que anda bem arrumado. Todos se importam muito com a aparência, mas não muito com o cheiro natural. A minha diarista, por exemplo, em 4 meses de trabalho, ainda não repetiu uma peça de roupa. Eles também se importam mais com beber que comer bem. Fui a uma algumas festas, tinha Whisky, vinho tinto, branco, rosé, Amarula, champanhe, rum, coca, suco, cervejas variadas e por aí vai, e o menu era arroz e peixe assado (estamos a beira mar). Eles gostam de ostentar que tem dinheiro. Muitos quando pegam o salário correm pra comprar roupa, sapato, bebidas e sair para boates etc. Chegam em casa, comem arroz, ou mandioca, ou folha de mandioca, ou pão, de vez em quando um peixe e não estão nem aí. Claro que muitos também ajudam a família. Mas eles gostam de ostentar. Aqui é normal ver as mulheres andando a pé de scarpin e os homens de terno.

Quanto a relação que eles tem conosco, expatriados, é muito particular. Como, na maioria, nós pagamos mais e somos mais gentis que os outros empregadores, eles esperam muito, muito mesmo, de nós. E esse esperar que é muito chato. Porque nós já tentamos ser melhores que os outros empregadores para eles, mas nunca é suficiente. É raro você ouvir um agradecimento, eles querem mais e mais e mais. Vou dar 3 exemplos para ficar mais visível a situação:

Primeiro, minha diarista, que trabalha manhãs por semana comigo, (eu não preciso porque só somos 2 pessoas em casa e eu não trabalho, mas damos trabalho para criar emprego, na verdade eu me sinto melhor sozinha em casa), ela toma café da manhã quando chega, come o que a gente come, muitas vezes eu cozinho a mais para ela poder levar pra casa, e ela ganha o mesmo tanto que um professor ou uma enfermeira aqui. Agradecida por ter um trabalho? Nunca. Eu arrumei um trabalho pra ela, 2 manhãs na casa de uma amiga, mas ela começou a fazer exigências, eu não a indiquei por conta disso; ela já faltou várias vezes de serviço; chega atrasada (agora parou porque sabe que mais uma, ela está fora); mente sem limites; dei metade do salário + carne como bônus de natal, ela nem mesmo agradeceu, e ainda mentiu que um parente morreu pra não vir trabalhar dia 24, e olha que eu já tinha falado que ia emendar o feriado pra ela. Eu já escutei vários outros exemplos parecidos ou piores.

Segundo, eu vi que o natal estava se aproximando, e vi que ninguém estava fazendo nada, resolvi chamar uma amiga para pedirmos dinheiro para oferecermos de presente para os trabalhadores da residência (guardas, jardineiros, eletricistas, auxiliar de limpeza etc). Não temos obrigação, pois são trabalhadores terceirizados. Mas os vemos todos os dias, e gostaríamos de tornar essa data mais agradável. A pessoa que deveria fazer isso é o "prefeito" do condomínio, ligamos para ele, ele falou que não ia fazer nada, que se a gente quisesse, que a gente fizesse. Saímos de porta em porta pedindo dinheiro.Teve gente que doou, outros não, e outros viajaram. No total, conseguimos dar 50 reais (convertendo) pra cada um, ressaltando que eles são 33 trabalhadores. Agradecimento? Uns 5 agradeceram, o resto pegou e tchau. E uns outros falaram que o condomínio está em decadência, porque antigamente eles ganhavam um presente melhor que isso.

Terceiro, um desses trabalhadores, porque de vez em quando eu troco algumas palavras com ele, me pediu um favor. Pensei comigo, "vai falar que tem alguém doente e vai pedir 50 reais emprestado". Vai nessa, pediu logo de cara um NOTEBOOK ... Não sei se é pra rir ou pra chorar. Me disse que podia ser usado e que pagaria parcelado. Falei que o meu também estava um caco e que meus pais também não tinham computadores. Aqui é desse jeito, você dá a mão querem o pé, você pode dar sua casa, seu carro, que ainda não será suficiente.

Com o tempo, gente aprende a não ter muita empatia com quem quer ter vida boa a custa dos outros. Eu ajudo, e vou continuar ajudando, as associações aqui, que ajudam realmente quem precisa, quem tem lepra, HIV, orfanatos etc. O Teleton no Brasil ou Le Resto du Coeur na França. Ou seja, quem realmente precisa e está na miséria. Porque tem muita gente que tem casa, tem carro, tem o que comer e beber, e fica pedindo luxo para os outros. Gente que eu conheço aqui, no Brasil e na França (várias pessoas) que tem os sonhos de luxo (celular da moda, notebook, roupa de marca, shows etc) e não tem vergonha de pedir para os outros. Primeiro, eu ajudo eu mesma e minha vida família a realizar nossos sonhos. Segundo, meus pais e minha irmã, que tem uma vida simples, mas não me pedem nada. Terceiro, as associações que eu conheço que ajudam as pessoas que tem uma necessidade urgente (comida, água).


Conclusão, a gente tem que aprender a ignorar umas coisas assim, a deixar entrar num ouvido e sair no outro. E aprender também a dizer não, porque não podemos salvar o mundo, o que podemos fazer é cuidar bem da nossa vida e da nossa família e dos nossos sonhos e lutar para que eles se realizem. Porque se dissermos sim a todo mundo, nunca vamos conseguir comprar uma casinha, um carro, viajar e a ter uma vida boa. Se um dia, eu virar uma escritora de sucesso e me tornar milionária, dai sim, vou poder atender alguns pedidos de luxo ..

Eu espero nesse Natal que as pessoas sejam mais agradecidas com o que tem e que Deus nos dê força e saúde para lutarmos por nossos sonhos!

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